quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Corrida #3 (parte 6)

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Jesse calculou que seu último disparo devia ter acertado a perna do atirador misterioso, já que este percorreu mancando os últimos metros que o separavam de um local abrigado atrás da montanha.

Nem Jesse nem o padre haviam parado de cavalgar, no entanto, o incidente os havia feito perder velocidade e tempo, o que deu oportunidade a Mr. Banger de se aproximar bastante.

O xerife ouvira os tiros e logo pensou: “ora, esses idiotas estão se matando para poder chegar primeiro. Que deslealdade. Como xerife, vou ter que tomar uma atitude”. E essa foi a desculpa que Mr. Banger deu a si mesmo para poder sacar a espingarda da lateral de seu cavalo e disparar vários tiros em direção aos outros corredores, já não tão distantes.

Uma saraivada passou zunindo pelo padre, bem próximo à orelha de Viola que, com o susto, disparou e derrubou Walles, que rodopiou e ficou pendurado à cela pelo habito. Para evitar os tiros, Jesse saiu da estrada com Jorge e subiu em uma pedra à beira do rio. Jorge subia com uma agilidade impressionante, atingindo facilmente a parte mais alta do pequeno rochedo, que formava um paredão diante do rio.


-Para de atirar, seu filho da...! – nesse momento, viola entrou no rio, interrompendo o xingamento do padre, que, ainda pendurado pela batina, ficou com a cabeça para dentro da água.


O rio estava raso nessa época do ano, assim, um cavalo não precisaria nadar para atravessá-lo. No entanto, como possuía uma largura considerável de uma margem a outra, o padre corria sério risco de se afogar antes de Viola chegar à outra margem.

Vendo isso, de cima da pedra e fora do campo de visão de Mr. Banger, Jesse pulou com Jorge no rio, a fim de salvar o padre.

Como dito antes, um cavalo não precisaria nadar para atravessar o rio, no entanto, Jorge não era um cavalo, tampouco era um bom nadador. Por sorte, como Jorge pulara bem perto de onde estava Viola, e como o corpo do padre estava funcionando como uma ancora, freando a égua, Jesse conseguiu alcançar o arreio, desprendendo Walles.

O padre e a cela de Viola caíram na água como uma pedra, enquanto Mr. Banger passava veloz por eles. Jesse desmontou e tratou de ir ajudar o padre que, por sua vez, já se levantou gritando e apontando para Mr. Banger:

- Vai atrás dele! Não deixa esse filho do capeta ganhar!

- Mas, padre, você ta bem?

- Tô, meu filho. Tô melhor que você. Vai logo! – apesar da petulância, o padre ainda estava um pouco cambaleante. Mas, para Jesse, era visível que iria ficar bem.

Jesse montou em Jorge, que saiu nadando, tentando vencer os últimos metros de água que faltavam para chegar à outra margem do rio. Jorge nunca fora um bom nadador.

Mr. Banger estava longe, já sentindo o gosto da vitória, quando olhou para trás e viu a nuvem de poeira acompanhada de barulhos frenéticos de cascos ao longe. Era Jorge que acabava de sair do rio e começava a correr.

Mr. Banger virou para frente e avistou os contornos da cidade ao longe. Era lá que a linha de chegada estava lhe esperando. Calculou a distancia que faltava e concluiu que não havia como Jesse o alcançar.
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terça-feira, 9 de junho de 2009

A Corrida #2 (parte 5)

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A multidão, que ainda estava um pouco agitada, paralisou-se diante da velocidade do jegue. Loreta não acreditava no que via: Jesse já quase sumindo na curva da estrada, a frente de uma grande nuvem de poeira deixada por Jorge em sua correria frenética. Os pés de Jesse quase tocavam o chão, e realmente chegaram a tocar quando Jorge fez a curva, desaparecendo da vista de Loreta

Fazia tempo que o padre não usava a estratégia da pistola explosiva em uma corrida. Cavalgava com certa tranqüilidade, rindo da enorme vantagem alcançada.

Mr. Banger estava raivoso. Como odiava aquele padre trapaceiro. Seu cavalo no momento corria mais rápido que o de Walles, no entanto, o padre era apenas um pequeno pontinho, quase no horizonte, sumindo a cada curva da estrada.

Concentrado em avistar o padre, cada vez mais próximo, Mr. Banger só percebeu Jesse atrás de si quando ouviu o barulho de cascos frenéticos golpeando o solo.
Bem, nesse momento da história, cumpre fazer uma observação interessante: enquanto a maioria dos quadrúpedes, quando correm, fazem um barulho ritmado e compassado, com pausas a cada três marteladas (daí a denominação onomatopéica “pocotó”), Jorge ignorava tais pausas em seu cavalgar, produzindo um barulho semelhante a um rufar de tambores incessante, como aquele que antecede apresentações circenses ou qualquer tipo de espetáculo que permita uma sonoplastização criadora de expectativa na platéia.


Voltando à história:

Mr. Banger esporava seu cavalo e gritava como um louco para que corresse. Sentia-se incapaz de evitar a aproximação de Jesse, que estava quase deitado de bruços em Jorge, com as pernas para trás, a fim de garantir melhor aerodinâmica.

Aproximavam-se de uma curva de mais de noventa graus na estrada. De um lado havia um pequeno rochedo, do outro, um barranco. Mr. Banger diminuiu a velocidade, fazendo a curva com cuidado. Olhou para trás e viu que Jesse se aproximava da curva sem diminuir o ritmo. Poucos metros antes da virada, Jorge deu uma guinada brusca para o lado, percorrendo o restante do espaço que faltava para atingir a curva derrapando e já correndo para a direita, sumindo do campo visão de Mr. Banger ao entrar atrás do rochedo ao lado da estrada. Mr. Banger olhou para frente e soltou um palavrão. Nem cinco segundos depois, olhou para trás novamente e Jesse já havia reaparecido há menos de dez metros de distância de seu cavalo.

Mr. Banger estava vermelho e tremia de tanta fúria - o caipira montado em um jegue estava a superá-lo. Quando Jorge emparelhou ao lado de seu cavalo, Mr. Banger não pôde se controlar e estalou o chicote na direção da cabeça de Jesse, que se abaixou, fazendo com que a ponta da corda arrancasse seu chapéu. Jorge disparou, enquanto seu cavaleiro apanhava o chapéu no ar.

Alguns quilômetros após deixar o furioso Mr. Banger para trás, Jesse avistou o padre cavalgando com tranqüilidade. Ao olhar para trás, Walles não pôde deixar de soltar uma exclamação espantada, seguida por uma risada. Viola agora corria bem mais rápido, o que não impedia Jorge de se aproximar cada vez mais.

Jesse estava a menos de dez metros de Walles e se aproximando. Foi quando avistou o brilho vindo de cima do monte à direita da estrada. Já sabia o que significava. Prontamente, sacou a pistola e disparou dois tiros em direção ao reflexo da mira telescópica do rifle.


- Que iss?!... eita!!! – Exclamou o padre, logo após ver um homem correndo para a parte de trás da montanha com o rifle na mão.

- Um atirador, padre. – Gritou Jesse, enquanto fazia mira novamente e disparava um tiro contra o homem empenhado em fugir.
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quinta-feira, 12 de março de 2009

A Corrida #1 (parte 4)

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Mr. Banger foi o primeiro a chegar ao local combinado para a corrida. Apesar de seu semblante agoniado, ele não estava preocupado com o resultado da corrida. Pensava somente na repercussão das circunstancias para sua reputação. "Ora, onde já se viu um xerife correndo contra um caipira montado em um jegue e um padre". Para Banger, o que era para ser uma brincadeira acabou por se tornar um espetáculo bizarro.
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Logo em seguida chegou o padre em cima de sua égua, ainda vestindo o mesmo hábito.
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- Sua benção padre. - Disse o xerife ao perceber o padre ao seu lado.
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- Vem cá meu filho, você vai me pedir a benção quantas vezes hoje? - Perguntou o padre, sempre mal humorado - Toma logo umas três bençãos pra preencher a cota de uma vez. Cadê o outro cara?
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- Deve estar chegando. - Respondeu Mr.Banger, sério, para logo depois se virar
para o outro lado. Definitivamente não havia gostado daquele padre abusado.
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Ainda dentro do bar, Jesse tentava se explicar para Loreta:
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- Se você não é um bandido, por que mentiu pra mim David? - Peguntou Loreta, com um leve tom de deboche.
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- Bom... é que...
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- "É que" o que? Desenrola!
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- ... eu nunca disse que não era um bandido.
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- E você é? Porque, se for, papai não vai gostar nem um pouco de saber disso. - Loreta tentava manter um leve tom de indiferença na voz, afinal, acabaram de se conhecer. Achou sua fala um tanto idiota. Parecia até uma ameaça.
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- Depende do que você entende por 'bandido' - Respondeu Jesse - Agora eu estou meio atrasado para a corrida com o seu pai, prazer em te conhecer Loreta - E saiu. Loreta ficou em silêncio.
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Jesse saiu do bar preocupado, com a costumeira sensação de ter deixado uma má impressão. Já havia se acostumado, uma vez que essa sensação sempre o perseguia; talvez por causa de sua baixa auto-estima, talvez pelo fato de ser um fora da lei. No entanto, dessa vez a sensação o incomodou mais.
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- Bom dia Xerife, bom dia... Padre?! - Cumprimentou Jesse ao chegar ao local da corrida. Estranhou ao ver o padre montado, mas não comentou nada.
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- Bom dia. Vai correr com o jegue, filho? - Perguntou o padre. Mr. Banger ficou calado.
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- É, vou sim - Respondeu Jesse.
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- Bem senhores, meu filho Jack chegou para dar a largada. - Disse Mr.Banger com indiferença, enquanto montava em sua égua. - Não estranhem se meu desempenho decepcionar os senhores, é que eu venho das minas, minha égua deve estar bem cansada. - Havia um tom mal disfarçado de deboche em sua voz. Certamente achava que não existia possibilidade alguma de perder o páreo.
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- Está reclamando de que? Acabei de chegar do convento de Ahumada. Muito mais longe. – Retrucou o padre

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Após a fala do padre, ambos silenciaram e olharam para Jesse, provavelmente a espera de sua desculpa antecipada para um eventual mau desempenho.
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- Phoenix. Venho de Phoenix.
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- Mas de lá até aqui são mais de 300 milhas só de canyons. – Disse o xerife boquiaberto. Só poderia estar mentindo – pensou.
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- Bem, na verdade, são 360 milhas. – Jesse corrigiu, distraído, enquanto montava em Jorge.
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Quando todos estavam preparados, o filho mais velho de Mr. Banger, Jack, começou a dar as instruções:
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- Bom dia senhores. Gostaria de esclarecer que a chegada será aqui mesmo. Os cavalheiros devem seguir sempre à esquerda na trilha das minas, que os levará de volta à cidade, passando pela propriedade de Johnny Carrasco, onde devem atravessar o riacho. Qualquer desvio no caminho desclassifica o cavaleiro. Bem, agora que estão todos montados, posso dar a largada? - Perguntou o rapaz. Ao receber a resposta afirmativa de todos, completou – Alguém pode me emprestar uma pistola para o tiro de largada? Só tenho essa carabina, e o barulho alto dela pode assustar os animais.
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- Toma essa aqui, filho. Você vai gostar. – Ofereceu Walles, sacando a pistola e passando para as mãos do rapaz. Naquele momento, a pequena multidão, antes aglomerada em frente à igreja, estava amontoada em frente ao “Bang Bar”, a espera da largada da corrida.
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Após analisar a arma desproporcional do padre por alguns instantes, o rapaz a ergueu hesitante para o alto e disparou um tiro de largada que, apesar de esperado, fez com que toda a multidão batesse em retirada freneticamente.
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Tanto o tiro quanto a correria assustaram de tal forma o cavalo de Mr. Banger que o animal empinou e partiu em direção oposta, o que fez seu cavaleiro perder um tempo considerável em relação ao padre, cuja égua, aparentemente não afetada pelo susto provocado pela arma, corria velozmente na direção correta, deixando um rastro de poeira para traz.
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Jesse e Jorge permaneciam parados. Jesse olhando de um lado para o outro. Quem visse poderia pensar que ambos estavam paralisados de susto, no entanto, o certo era que Jesse estava procurando por Loreta no meio da multidão. Queria que ela o visse na largada, que ela visse a velocidade de Jorge, o que, na opinião de Jesse, justificaria o fato de ele montar em um jegue.
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Depois de quase um minuto de desvantagem com relação aos outros competidores, quando a multidão se acalmou, Jesse avistou Loreta, olhando para ele, na porta do bar.
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- Arre, Jorge!!! – Gritou Jesse, e Jorge correu!
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Walles (parte 3)

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Walles suava, praguejava e se contorcia dentro daquela carruagem apertada e quente. Olhou para o lado e, através da janela, viu sua égua Viola trotando junto à carruagem.
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"Por que não me deixaram vir montado?" - perguntou a si mesmo. Lembrou-se da resposta, já havia feito a mesma pergunta a Madre Mercedes antes de deixar o convento a caminho de El Paso. E ela havia respondido:
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- Índio não gosta de padre, meu filho. Índio come tudo quanto é tipo de padre. Padre gordo, padre magro, franciscano, vicentino, agostiniano. Mesmo se você não for vestido de padre, eles adivinham. Os demonho chegam e falam no ouvido desses índio encapetado: "vai lá, come aquele lá, é padre"! Quanto mais escondido você ficar durante a viajem, melhor, Walles.
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Certamente Madre Mercedes sofria de amnésia, se não, não falaria essas coisas para Walles. Ou melhor, se não sofresse de amnésia, nem abriria a boca para falar com ele, dada a maneira como chegara ao convento, aos 11 anos de idade. Sorte do padre que, àquele tempo, há quase vinte anos atrás, Madre Mercedes era mais tolerante e acolhedora.
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Walles já estava ficando cansado de tentar não contrariar a Madre caduca. Aliás, Madre Mercedes era a única pessoa a quem Walles não 'fazia questão' de contrariar, mesmo quando ela impunha coisas absurdas, como, por exemplo, que ele viajasse dentro de um caixote.
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Enquanto Walles estava distraido, remoendo pensamentos sobre seu passado, a porta da carruagem se abriu. Haviam chegado.
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- Eu só espero... - Disse Walles para o cocheiro que havia aberto a porta para ele - ...que o desgraçado que me mandou essa carruagem já esteja ardendo no inferno. Quem é o infeliz do tal Banger? - Perguntou o padre, enquanto se esforçava para sair da carruagem.
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- É aquele senhor alto de cabelos brancos ali, Sr. Padre, te esperando na porta da igreja - Respondeu o cocheiro.
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Uma pequena multidão estava aglomerada em frente à igreja, todos ansiosos para conhecer o novo padre. Mr. Banger estava à frente, com um largo sorriso no rosto.
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- Sua benção padre. - disse Mr. Banger, adiantando-se aos pedidos de outros "fiéis".
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- Ta abençoado. - Respondeu Walles com a cara fechada. E continuou andando em direção à igreja, ignorando os demais pedidos de benção.
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- Espere padre. - Disse Mr. Banger, andando rápido para se manter ao lado de Walles - Eu mostro a igreja para o senhor.
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- Meu filho, não se preocupe. Igreja é tudo igual. Se viu uma, viu todas. Eu só vou botar minhas coisas la dentro, dar água para minha égua e, depois, vou conhecer a cidade. - Disse Walles - Depois de 8 horas preso dentro daquela carruagem, a última coisa que quero é ficar preso dentro de uma igreja. - Completou o padre, falando mais para si mesmo do que para Mr. Banger.
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- Muito bem padre, o senhor é quem sabe. - Disse Mr. Banger - A propósito, fui desafiado para uma corrida, será daqui a pouco. Se quiser vir assistir, a largada será em frente ao meu bar, logo ali à frente.
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- Corrida??? Então quer dizer que estão correndo por dinheiro??? - Perguntou o padre, surpreso.
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- Ora, será apenas um valor simbólico. Uma brincadeira. Nada demais - Respondeu Mr. Banger envergonhado. Havia se esquecido de que a Igreja condenava as apostas.
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- Ah! Então essa cidade não é tão ruim quanto eu pensava! - Disse o padre sorrindo, enquanto enfiava as mãos nas vestes para tirar um punhado de moedas - Aposto 12 dólares!
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- Em meu cavalo? - Perguntou Mr. Banger, ainda surpreso com a reação do padre.
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- Não. Em Viola. Estou entrando no pálio.
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Loreta (parte 2)

Alguns dias atrás, em uma grande cidade mexicana de fronteira (o ideal, mas não essencial, é que as historinhas sejam lidas em ordem):
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Jesse e Jorge chegaram a El Paso. Estavam tão sujos e cansados que Jorge parecia até um jegue comum para quem olhava, sem o vigor que lhe era característico.
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- Chegamos na sua terra, Jorge. Quem sabe você não encontra sua família aqui.
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- iiihhh ohhhh - Respondeu Jorge.
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El Paso era uma cidade grande, seca, suja e bela. Cavalheiros andavam de um lado para o outro com seus paletós impecáveis; bêbados dormiam apoiados em mesas empoeiradas, ao lado de suas garrafas vazias; comancheiros, caçadores de recompensa, pistoleiros, assassinos, todos conviviam em uma harmonia estranha, típica de El Paso, onde parecia reinar uma certa ordem.
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De um lado as autoridades, representadas pela família Banger, concediam certa liberdade para a anarquia dos diversos tipos de indivíduos que passavam pela cidade; por outro lado, os baderneiros sabiam que, por estarem em El Paso, deveriam respeitar certas regras essenciais, principalmente para não criar problemas com o implacável Xerife Banger.
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E assim se vivia na "cidade da fronteira", nesse estranho equilíbrio entre o caos e a ordem.
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Jesse arranjou um pouco de agua para Jorge, amarrou-o, e entrou no "Bang Bar". Não demoraria muito para perceber que, naquela cidade, quem mandava e desmandava era a família Banger.
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- Buenas tardes! Me vê um copo de... água. - Disse Jesse à senhora atrás do balcão.
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- Buenas Señor. Non queres beber algo mais... fuerte? - Perguntou a dama por de tras do balcão. Era muito bonita.
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- Ahh... Não, obrigado. - Respondeu Jesse, um pouco encabulado.
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Jesse às vezes se envergonhava de si mesmo. Onde ja se viu - pensava - um cowboy procurado, com uma reconpensa de 180 dólares nas costas, montado num jegue e que, ainda por cima, não gosta de bebidas alcoólicas.
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A moça do balcão deu um sorriso enigmático. Jesse não conseguiu identificar se ela estava rindo dele ou para ele. Era mais que provável que estivesse rindo dele mesmo.
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- Entonces, qual o seu nome? Nunca te vi por aqui. - Perguntou a dama, agora estranhamente sem o sotaque, enquanto lhe empurrava uma caneca grande, cheia de agua.
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- Meu nome é David, sou do Texas. - Mentiu Jesse.
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- Tenho um irmão com o mesmo nome. E o que faz na cidade David? - perguntou a moça, debruçando-se no balcão.
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Jesse sentiu um calafrio, pensou: "Meu Deus, é muito bonita. Será que me viu chegando de jegue?"
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- Tudo bem se não quiser responder. - Falou a moça, desconfiando da demora de Jesse para falar.
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- Não, não. Não é nada de mais. Meu patrão comprou 500 cabeças de gado de um fazendeiro logo abaixo do rio. Pretendo ficar pela cidade até as águas baixarem. - Mentiu novamente.
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Loreta Banger tinha achado o rapaz do outro lado do balcão muito estranho e interessante. Era a primeira vez que trocava mais de 5 palavras com um homem sem receber uma cantada. E ele nem sequer havia perguntado seu nome.
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Loreta era uma moça alta, de 19 anos. Tinha os cabelos bem pretos e lisos, a pele morena e os olhos bem negros e apertados, pareciam muito com os olhos dos comanches que habitavam o norte da região. Não parecia nada com a falecida mulher de Mr. Banger, o que gerava o boato de que ela seria o fruto de uma aventura do xerife com uma comanche que conheceu durante a construção da ferrovia.
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- Meu nome é Loreta, Loreta Banger. Filha do xerife da cidade e dono desse bar.
- Disse Loreta, com um ar de superioridade. No fundo, tentava despertar algum interesse no forasteiro, aparentemente indiferente à sua beleza.
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- Prazer, Srta. Banger. - Respondeu Jesse, sorrindo meio abobado.
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A verdade é que Loreta não poderia despertar mais interesse em Jesse. Ele estava vidrado em seus olhos, no movimento de seu cabelo, em tudo. O nome da moça ecoava em sua cabeça e ele o articulava silenciosamente com a boca... "Lo-re-ta". Se sentiu ridículo. Pensou - "Talvez ela esperasse receber uma cantada" - Para logo depois afastar o pensamento - "Não, eu não saberia o que dizer".
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Após alguns minutos de constrangedor silêncio, com Loreta ainda debruçada no balcão, entrou um senhor bem alto, forte e moreno no bar. Tinha cabelos brancos e longos caindo pela face e, no peito, carregava uma estrela dourada onde se podia ver escrito "Sheriff".
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- Santo Deus! Tem um jegue selado amarrado na porta! - Gritou Mr. Banger, o homem alto de cabelos brancos, entre risadas, logo após atravessar a porta do bar. - O homem que monta esse animal não pode usar calças. - Completou o xerife, provocando a risada de todos.
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- O homem que monta esse animal... - disse Jesse se levantando - ...é o mesmo que o derrota em uma corrida contra seu melhor cavalo, e montado em um jegue. - Completou Jesse, segundos antes de ver a estrela no peito do adversário.
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"Caramba, é o pai dela!!!" - pensou.
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Mr. Banger se assustou com a ousadia do forasteiro, mas, passado o susto, não economizou gargalhadas.
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- Pois bem, forasteiro. Estava precisando me divertir. Vou à paróquia receber o novo padre, e depois encontro você em frente ao bar para uma corrida. - Disse Banger, depois de boas risadas. - A propósito, qual o seu nome?
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- Meu nome é Jesse, Jesse Wilde. - Respondeu Jesse, esquecendo-se de que havia se apresentado como David para Loreta.
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- Muito bem Jesse. Depois decidimos o valor da aposta. - Disse o xerife, antes de sair do bar sorrindo para ir receber o padre.
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O Fim. (parte 1)

- Corre, corre, CORRE Walles!!!
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- O que? Que porra é essa? Quem são el... fudeu!!!!
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*tá tá tá* (tiros)
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Jesse correndo como um louco e Walles correndo na mesma direção, sem saber direito o porque. A família Banger vinha atrás, montada e atirando com suas espingardas de canos longuíssimos.
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Jesse montou em seu jegue de corrida, "Jorge", e Walles, o padre, montou em sua égua mustang, "Viola". A família Banger se aproximava, cinco irmãos e o pai, parecia que sua munição era infinita, já haviam disparado mais de 100 tiros.
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- Arre, Jorge! - gritou Jesse.
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Jorge correu. Não como um jegue, mas como um legítimo cavalo de corrida. Walles ja estava um pouco à frente com sua mustang, corria agarrado ao terço que trazia no pescoço; corria e orava. Jesse se virava de tempos em tempos no lombo de seu jegue para disparar um tiro pouco preciso.
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- Atira, Walles!!!! - gritava Jesse.
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- É pecado, porra!!!! - respondia o padre.
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- Segue aquele mandamento: Não morrerás, alguma coisa assim!.
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- Esse mandamento não existe!!!
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- Devia existir... E devia existir um mandamento: Não xingareis também... Nunca vi um filho da mãe de um padre xingar tanto.....Vai Jorgeeeee!
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*tá tá tá*!!!
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Nesse momento, um tiro passou de raspão pela cabeça do padre Walles que, prontamente, virou-se para trás e disparou uma série de tiros. Walles tinha uma pistola anormalmente grande e explosiva. Raramente a usava, mas, quando usava, cada tiro fazia um barulho que poderia ser ouvido a quilômetros de distância.
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Walles derrubou dois homens. Jesse olhou para trás sorrindo e identificou os abatidos, eram Josh e David Banger. Agora eram três contra dois, uma vez que Mr. Banger, pai, ficou para trás para ajudar os filhos feridos.
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- Putz... será que eu matei? Será que eu volto la pra ver? Pobres homens. - dizia o padre, em um tom de preocupação forçado.
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- Você ta brincando!!!??? Continua cavalgando!!! E, de preferência, atirando também... - Respondeu Jesse.
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- Puta merda! Vo pro inferno! - Gritou Walles, provocando uma gargalhada em Jesse, em meio a mais uma rajada de tiros de carabina.
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O riso se congelou no rosto de Jesse. Silenciou-se. Ainda balançando no lombo de Jorge, que corria como ninguém nunca havia visto um jegue correr, Jesse levou uma das mãos às costas para, logo depois, pará-la à frente do rosto. Estava suja de sangue. Jesse ainda pôde ouvir Walles gritar:
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- Jesseee!!! - E ouviu mais quatro tiros estrondosos da arma do padre antes de sua visão escurecer.
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